A Banda Toca Buarque
Poesias
Ateu Poeta/Aroldo Historiador/ Amadeu Nuvem
1
A BANDA TOCA BUARQUE
Quando a banda toca
À toca toda dá matiz
Desde a matriz
Toca o meu coração como pipoca
Que pula feito aprendiz
Faz movimento sem igual no país
O Rio de Janeiro canta pela paz
A paulistana bainice do samba de raiz
Todo mundo brinca, baila e bole feito bamba
De Fortaleza ao Planalto Central
Cada esquina com o seu carnaval
O frevo pernambucano ferve pela verve
O sangue capixaba e mineiro
De Rondônia ao Rio Grande do Sul
Todo ano se torce e se tece
De forma tal
Que o Brasil se sente inteiro
Seja em forró, fandango ou funk
Amarelo, verde, vermelho ou azul
Cada gota de dor estanque se esquece
Em Chico Buarque de Holanda
Na Rua Augusta ou em Copacabana
Ou seja lá aonde anda ainda a onda
Sonora tão bacana
Sob a qual toda a tristeza fenece
Ateu Poeta
09/05/2016
2
SOBRE MOINHOS DE VENTO
No dia em que as lágrimas secarem
Eu não saberei quem sou
A sanidade irá embora
Pois não existe aurora pela metade
- Nada resta além de saudadeAtestam o mínimo de humanidadeA luta, o luto e a necessidadeDe se ter lealdade ao próprio coraçãoO soneto se cria da intensidadeÉ a chama da verdade que vira cançãoSonhar também é uma prioridadeE que os moinhos de vento estejam todos láAssim, um dia alguém diráQue eu vivi de verdadeAteu Poeta02/01/2016
3
BOMBA H
Nas mansões dos grandes chefões
Têm muitos carrões
Particulares aviões
Para vis expedições
Peregrinações
Granadas, mísseis e canhões
A moda é criar chavões
Principiar as explosões
Terrorismo invade as repartições
Soltaram os escorpiões
Onde estão os corações
Que inventam canções?
De Bangladesh a Paris
Ninguém diz que é feliz
Bandido hoje é juiz
Mar de lama meretriz
A cama tudo contradiz
E a grana agarra a perdiz
Rapina rápido a matriz
Filiais e pó de giz
Arquiva as provas por um triz
Sem tremer nem o nariz
Arranca ramo e raiz
Suga o sangue e pede bis
Pela pelos, pele e perfis
Pela pátria imperatriz
Petróleo jorra em chafariz
Párea regra de Sarrus
Tudo é crise nos jornais
Triunfos viram carnavais
A navalha fere o cais
O vermelho já não pode mais
Que todo o mau descanse em paz
Aliteraram os litorais
Liteiras levam livros tais
Paralelos elos aos rivais
Cães nas câmaras quais
Ladram ladrões gravatais
Nem sempre cordiais
Gravatás grasnando temporais
Greves gravitacionais
O tempo é têmpora e vai embora
A aurora ancora seus rituais
Apolo inspira sãos e insanos
São tantos planos fenomenais
Por debaixo dos panos
Nas escotilhas
Tiros, detritos
Tristeza e atritos
Tudo vira ilha
De Detroit ao Vaticano
Todos entram pelo cano
A libido da Líbia chega ao Brasil
A tragédia de Biquíni jamais se extinguiu
Destrói a História quem jamais existiu
A flâmula afunda vidas no Ganges
A fé mata em massa, aos milhões
O prego prega com a Bíblia na mão
Vedas no ventilador
Corão causa imensa dor
Cega retaliação
E assim caminha a religião na relva
A selva das fogueiras é a trepanação
Nada é proibido pela cobiça de Alá
Ou para expandir as fronteiras
Deus nunca esteve lá
Apenas o adeus
Que fez presidente chorar
No olho do caos
Na boca do tubarão
Brilham riquezas
Avarezas
Sonegação
Negar a verdade
Polir a vaidade
Grega segregação
A sociedade adora sofrer
Cartéis de cruéis coronéis
Dão as podres cartas
Do carrasco poder
Sem a menor saciedade
Mesmo assim
Os senhores da guerra
Morrem de medo de perder
Ateu Poeta
08/01/2016
4
BANDEIRA NEGRA
Merecemos mais educação
Cérebros em erupção
Na era da informação
A real revolução
É criar evolução
Esqueça a sua intuição
Procure instrução
Seja na computação
Ou no seio da canção
Chega de destruição!
Balas perdidas sem função
Tirando vidas à traição
Explosão na conjunção
Na conjuntura da radiação
Catástrofes abissais da equação
Notícias mais sangrentas que filme de ação
Não existe James Bond na estação
Para Cunha, Samarco e marcos da fruição
Tudo se compra e todos se vendem na fração
No bingo, no pregão e no balcão
Peças no bolso do barão-cação
Caçadores à espreita em estreita condição
O mundo mudo planta mudas da corrupção
Como é possível tanta convicção?
O fanatismo só afina a sua funesta dicção
A paz aqui jaz no discurso da contradição
Jazz do jamais e a lama no meu coração
Ateu Poeta
16/01/2016
5

-IDADE-VALSA
A matéria dança
Na densidade
Idade-valsa
Falsa mudança
Ateu Poeta
12/01/2019
6

INVERNO ASTRAL
O aquém do caos não é aqui
Aquilo ali além da lei
A lá Ninsei
Nonsense sem sensei
A vaidade que há em ti
Faz a primavera em si
Aflorar a fruir
So far away
Só farei Sol
Só sol e fá, hey!
Rei que não sou
Do Rock'n'roll
Quando a tempestade cair
Não mais será verão
No meu coração
Que o vulcão partiu
O blues do céu da tua boca
Deixa minha mente oca
Será que soul
No funk de Foucault
O Kant que dificultou o canto
Da poesia de Platão?
Dancei sóbrio burbom
No batom do teu botão
Em noite de neon
O vetor não vê o fator espectral
Que há no víride do vidro
Do inverno astral
Ateu Poeta
15/01/2019
7

UM SORRISO CASUAL
As coisas de valor não têm preço ou pressa
Por isso eu não me rendo à paixão
Que bate no peito violenta
Flecha febril do céu ao chão
Maldito seja o ser que arremessa
De forma tão vil e sangrenta
Que fere a fogo e arrebenta
As artérias do coração
Quem menos tem palavra é quem mais faz promessa
A morte mais lenta é viver de ilusão
Todos os mitos são banais
Também os mistérios
Ministérios astrais
Perda de tempo
Cansaço mental
O ideal nasce de metal
Depois vira cristal
Tão frágil e fugaz
Quanto aquele sorriso
Incisivo, lascivo e casual
Voando nos braços do vento
A poesia não é nenhum rebento
Mas vícios, liberdade e escravidão
Virtude de voar na prisão
Vulcão com senso de latitude
Latu sensu em plena escuridão
Erupção com redoma em contensão
É tudo vão no breu
Todos mofarão no negro manto de Morfeu
Apesar da radiante sedução
Expressa nos teus olhos-xenon
Em cada rara curva do teu corpo-neon
Onde fico sem tom
Perdido de emoção
No retocar do teu batom
Sob o começo do fim
O universo não para, querubim
Na tua boca de carmim
Mora a minha perdição
Porque o off é muito próximo do on
O prelúdio é um prédio
Sem remédio nem estúdio
O que existe gira inverso
Em prosa e verso
Sob a pena do furacão
Impresso no seio do caos
Neste livro analfabético de hidrogênio
Cais de gênios
Porto de bons e maus
Tanto faz, segundos ou milênios
Para Tântalo é tudo igual
Tártaro, tarântula, tartaruga
Rugas e runas vêm e vão no temporal
Mar colorado de coral
Tarantela de querelas
Querendo big-bang no litoral
Ateu Poeta
17/01/2016
8
MARCHA PRA SATÃ
A marcha pra Satã
É um protesto
Meio tantã, sei lá
Meio tantã, sei lá
Quem leva a zoeira mais a sério
Quem prende
Ou quem já estava lá?
Mistério
Qual o critério para julgar?
Qual o critério para julgar?
Não há ministério
É coisa de ateu!
Parece mais de Sísifo
É coisa de ateu!
Parece mais de Sísifo
Ou mesmo Prometeu
Já que é missão impossível
O Estado Laico o ser realmente
Quando há tanto afluentes cristão
Seria chuva de água benta que caiu?
O Estado Laico o ser realmente
Quando há tanto afluentes cristão
Seria chuva de água benta que caiu?
Alguém riu
Estão com medo de rebelião?
O Inferno se abriu?
Outro explicou
O Inferno se abriu?
Outro explicou
A sua religião é menor
Não troca patuá pelo andor
Pretere o Papa ao pai de santo
A zoeira é de modo tanto
Que religioso foi
Não adoramos o cabeça de boi
Poderia falar quem não acredita
Daí alguém interdita
8 ou 9 brincantes
Ou seriam protestantes?
Novamente, sei lá!
Em São Paulo a cantar
Em louvor do Belzebu inexistente
E o de vermelho será assistente?
É só mais um persistente
Que passa contente
Cantando refrão
No ano que vem quero ver
Se no dia não chover
A marcha pra São Nietzsche
Que cura rinite intelectual
Não haverá nada igual
É esperar para ver
Se vira factual
8 ou 9 brincantes
Ou seriam protestantes?
Novamente, sei lá!
Em São Paulo a cantar
Em louvor do Belzebu inexistente
E o de vermelho será assistente?
É só mais um persistente
Que passa contente
Cantando refrão
No ano que vem quero ver
Se no dia não chover
A marcha pra São Nietzsche
Que cura rinite intelectual
Não haverá nada igual
É esperar para ver
Se vira factual
Ateu Poeta
18/01/2016
9
SOLDADO INFANTIL
Nenhuma criança-soldado é de ferro
Grande é o berro da quadrilha
Nova explosão
Todo homem é uma ilha
O louco quer ser sempre o mais são
Não passa de mero jargão
O lucro vem no trabuco
Bem na boca do dragão
Ateu Poeta
25/01/2016
10

A FORMIGA E A CIGARRA
Hangar, andar, angariar
Eu não aprendi a rimar
É preciso esquecer
Para não fenecer
Sob o domínio do mar
E viver mais do que reclamar
É inevitável sofrer
E até lamentável
Mas, faz parte do percorrer
Substanciar o verbo
Adverso inverso
Adverbio do cantar
Quem diria que a cigarra é quem trabalha
E a formiga atrapalha?
E olha quem leva a fama de má
Ateu Poeta
27/01/2016
11
POEMA DE SOLIDÃO
A gente não consegue entender
O coração não quer aceitar
Não é a distância o que separa
Cada um sabe o quanto vai sofrer
O que se conquistou faz encantar
Encontrar amizade é coisa rara
Até o Tempo calou
E fez a saudade delirar
Foi a tempestade que chegou
E o mundo para
O teatro acabou
A ribalta se recusa a baixar
O Universo acusa e faz sangrar
Ninguém se prepara
Lá se vai outro coração
A canção chega a transbordar
E de repente a solidão
Está na cara
Entra entre a multidão
E se instala
Feito vírus em ação
Feitor de forte açoite de fúria
O dia é noite
A religião só faz injúria
Em outra ala
A asa quebra
Celebra o que estala
Está lá no fio da mente
Na velha veia da navalha
A liberdade de pensar sempre foi cara
Ateu Poeta
30/01/2016
12
POLIANA
Um dia a arte vem
E quebra todos os padrões
Fere os tolos corações
Das feras mais sapientes
Choram reis, faraós e tenentes
Penitentes celebram alheias canções
Paradoxos vazios imperarão
Cada jornada é adornada com um jargão
Estrelas se perdem no pavilhão
Falsos sóis acendem
Nefastos faróis
Um mar de lama, Mariana
Política em pauta, Poliana
Meio crise, meio drama
E muitas bonecas de porcelana
Ideias que transcendem no trem
Heresia
Harmonia é melodia pra quem tem
Entre a ironia e o sarcasmo
O cigarro mata mais cinco milhões
Meras estatísticas não movem heurísticas
Medalhões
Ateu Poeta
21/02/2016
21/02/2016
13
FLORES AO VENTO
Atire aquela flor ao vento
Aquarela do caos e rebento
Tire o amor do caminho
E cada espinho virará moinho
Delírios virtuais
Desse pergaminho
Criam temporais
Passarinhos em vitrais
Margaridas aos porcos
São carrascos canhões
Que aos poucos mutilam
E matam aos milhões
A fome assola
Cega sede de poder
Na cartola
O mago mente pra vencer
Sua mente é vitrola
Será lavada ao violão
Enquanto a viola
Toca o jogo da ilusão
A paixão demora
E traz seu próprio fel fugaz
Que na aurora
Trai e corre atrás
Sempre em abandono
Servindo no quartel
Feito um cão sem dono
Você sonha em ir pro Céu
Nesse tolo abismo
O cinismo é menestrel
Sem altruísmo
O mundo todo é um cartel
Ateu Poeta
25/02/2016
14
PENSADOR DE CRISTAL
Entre a fé o ceticismo
Há um abismo sideral
Euforia e aforismo
Ante as flores do mal
A elipse ruminante
É delirante ritual
Dínamo e dinamite
Ao pensador de cristal
A existência é um paradoxo
Que nunca para
Atual e ortodoxo
Paixão de berço e mortalha
Ateu Poeta
02/03/2016
15

NÃO ROLA
Acorda, carola!
A boba bola não rola mais
Cheira cola no sinal
Tráfico de drogas em âmbito nacional
Fascismo é abismo
Nacionalismo-cinismo-nazismo
Quem foi que cunhou esta louca delação?
E a premiação, cadê?
Poesia com sabor de canção
Decide, Delcídio!
Escolhe a tua vertente, serpente!
Quem tem sanidade nada contra a corrente
Porque a liberdade não é dada nem recorrente
Ditadura na boca dos dementes
Bolsonaro mais do que insolente
Temer, golpista, montando a sua quadrilha
O PMDB é uma armadilha
PSDB ladrando com a sua matilha
Não larga o osso
Ócio da escotilha
A bala-mortalha não abala ninguém
O Planalto Central pretende ser uma ilha?
Planta o seu ritual
Pilantras com olhar de desdém
Eduardo Cunha, O Poderoso Chefão
Está fazendo de tudo para a fundar a nação
Sérgio Moro engavetando a lista
Mais cego que Moros
E muito menos realista
Um helicóptero de pó sumiu
E ninguém foi pro xilindró
É esse o meu Brasil?
Ateu Poeta
26/04/2016
16
A FOICE
A foice de Thanátos só não corta a si mesma
O ciclo sempre se renova
Ciclone em evolução
Dupla hélice
Duração
Ação das elipses
A vida é eflúvio em ebulição
Ateu Poeta
12/04/2016
17
DELETÉRIA IMENSIDÃO
Impacto invisível
Incrível e sem razão
Índice indizível
Indivisível mundo compacto
Intransferível jogo sem pacto
Inevitável e deletéria
Indelével imensidão
Ateu Poeta
14/04/2016
18
ILUSÃO DA MEIA-NOITE
Na escuridão vejo teu rosto.
No silêncio escuto tua voz dizendo: _vem
Mas, é só ilusão
Será loucura?
Por que a vida é tão contramão
Lirismo decadente
Crescente contradição
Enquanto o tempo nada cura?
Cada vertente a mais dura
Apenas a dúvida é pura
Mas, a ignorância é uma tortura
Uma espécie de dor sem fim
E o resto não conduz à razão
O fundamentalismo mata a fundamentação
Para longe desse abismo do cinismo da usura
Só quero o teu sorriso dentro do meu coração
Ateu Poeta
28/04/2016
19
IDIOCRACIA
Meu coração
De aflição
Já está senil
Minhas lágrimas
Sob este céu de anil
Nada sabem das esgrimas
No véu mórbido das águas
Não senti a dor
De morrer no mar
Afogados
Sem clamor
Sem nada mais para amar
Sem calor
Sendo obrigado a calar
Até o condor se esconde
Boiam corpos aos montes
Sem flor
Imigrantes
Oito mil
Nenhum ator
O que eram antes?
Fugitivos errantes
Herdeiros do caos
E da estupidez
Na febre do ódio
Na beira do cais
Exprimidos
E oprimidos
Esperando a sua vez
Dentre explosões e guerra
Correria, sangue e terra
Há tragédia em lutar e fugir
Milhões deveriam ter razões
Mais fortes que canhões
Mas se perdem em refrões
Em nome de Alá
Mohamad, valquírias
Ou sei lá
Esperando um paraíso de terror
Estouram meninas-bomba
Que nem sabem orar
Meninos embebidos
Em lavagem-cerebral
E ninguém faz nada
Pela guarda cultural
Em nome de um Deus-pastor
Todos morrem e matam
Totalmente sem valor
Mesmo budista e ateu
Entra na lista macabra
O mundo todo é fariseu
Até à última cabra
Não existe Samaria
Mas, não se estanca essa sangria
O homem é um animal em extinção
Em seu peito tem pedra
E mora um negro escorpião
À morte celebra
Com cada estúpido ritual
Sob drogas
De ervas
Que enervam o brutal
Se existisse, o que Jesus faria?
A mesma idiocracia
Ateu Poeta
31/05/2016
20
QUIMERA SEM COMPAIXÃO
A paixão é ferida aberta
Incerta
Deserta ao calvário do não
Solidão
Sob o peito sem leito
Com efeito
Faz sangrar tempestade e vulcão
Rarefeito
E sem dimensão
Ao sensato apavora
Mas, ao louco, que a ignora
Devora
Feito fera sem ração
Na prisão
Ofusca firme a razão
Nas pobres rimas do refrão
Dá vida
E guarida
Também leva ao caixão
Despedida
Há quem diga que é nobre
O desdobre
Mas, é mera evolução
Inodora solução
Sem calmaria nem compaixão
Adora
A qualquer preço
Sem demora
Nem apreço
Virar a mente do avesso
E nunca muda de endereço
Sempre aflora
Feito ferina canção
Sem ter hora
Como agora
Quimera que mora no meu coração
Ateu Poeta
01/05/2016
21
MINHA CINDERELA
Serra
És minha terra!
De ti sempre sentirei saudade
Se estou longe
A felicidade
Por inteiro se encerra
Ao amanhecer
Os passarinhos deixam seus ninhos
E transformam em orquestra
Toda a floresta
A florescer
Em festa
Até o meu quintal
Onde a verde verve vive
É tudo tão surreal...
Então, surge o vermelho sol
E Pacoti fica ainda mais bela
Do inverno à primavera
A minha Cinderela
Doce dama de aquarela
Em seu vestido de arrebol
Não entendo porque matam
As tuas árvores
E o teu rio
Destruindo o brio
Da tua atlântica mata
Gente ingrata!
De mente abstrata
Cabeça putrefata
E coração sombrio
Ateu Poeta
19/06/2016
22
AVE CRATENSE
Um dia, em vão
A andorinha fez verão
Sozinha
Só para afrontar a doninha
A coruja e o escorpião
Derreteu com o Sol arquimédico
O icário jargão de erro crasso
Ave sisífica, atlântica, tyrância ao fracasso
Thórica, herculana, cratense
Jorgiana, viriatônica, eratosteniense
Horânica, dionisíaca, prometeriana
Um forense sabe que um átomo atônito
Explode um big-bang catastrófico
Nada é mais histórico que o sangue
Jorrando eufórico
Em jarro jordânico
Ateu Poeta
28/07/2016
23
MUITO MAIS QUE LINDA
Ela faz pose
Pro close
Muito mais que linda!
O meu coração para
Dispara
Vem bagunçar a minha vida
Se está longe nada tem sentido
Não há caminho ou direção
Tudo é monotonia
Agonia
Infelicidade
Sem razão
A alegria mora no seu abraço
No desenho do seu corpo, enfim
Seu sorriso é um pecado
Demônio, musa e querubim
Estou louco para ser beijado
Por essa boca de carmim
Ateu Poeta
06/10/201624
ESFINGE
Dá bola
Faz charme
Manda seu olhar sedutor
Em seguida finge que me esqueceu
Esnoba
E diz que não quer mais
Mas, agora que estou em outra
Vem correndo atrás
Qual é a sua?
Muda mais de fase
Do que a Lua
Do que a Lua
Qual é a sua?
Já deu, já deu!
Agora quem não quer sou eu
Ateu Poeta
22/10/2016
25
A IDEIA
A erva
A Matriz
E a caverna
É tudo da mesma madeira
De lei
O coelho sai da cartola
De novo o mesmo sonho eu sonhei
Outra vez me hipnotizei pelo teu olhar
Se foi delírio
Ou paixão
Nunca saberei
A mesma ilusão a me acorrentar
A ideia fere, ferra e liberta
Mas, qual a errada e qual a certa?
Ateu Poeta
20/10/2016
26
TAMBORES DA MOCIDADE
A tenaz tristeza
Arranca a certeza
Sonho e sentido do cantar
A saudade se infiltra
Na felicidade
Que faz o mundo suportar
Será que poderei te esquecer
E manter a sanidade?
O brilho dos teus olhos faz fenecer
Sem saber a realidade
Não adianta paixão ter
Sem o sabor da cumplicidade
Tua beleza
Espalha a leveza
Pelos caminhos da minha cidade
Não é só questão de prazer
Mas, do coração bater
Feito os tambores da Mocidade
Ateu Poeta
25/06/2016
27
FEITO FLECHA
Teu sorriso sonhos reverbera
Ao desiderato arremessa
E feito flecha atravessa
Cada artéria do coração
Em ti tudo é frenesi
O teu corpo é canção
Que abala qualquer estrutura
Porque tua boca é a paixão em si
Que deixa sem chão
Qualquer ser são
Mesmo na noite mais dura
No Inferno, no inverno, no Céu
Ou na beira do cais
Sem sombra ou chapéu
A razão aqui jaz
Nos filamentos neurais
Tua imagem altera
Os pilares da imaginação
O universo se alitera
Sob a tua gravitação
Que causa caos
A calmaria não existe
O instinto desliza em tuas curvas
Tênues, tenazes e turvas sinfonias
Vinho tinto que insiste
Em avermelhar o sol
Quem dera, na primavera
Ser em teu seio arrebol
Ateu Poeta
26/06/2016
28
SONETO PERFEITO
Falta criticidade
Quanto mais vazios
Mais engolem verdades
Enlatadas em barris sombrios
Sem o menor gradiente
Quem só viu o azul
Não distingue um fio de blues
De um pedaço de dente
A vaidade é vil e estridente
Fomenta a ganância do tridente
É da ciência ciente
Mas, age com falsidade e insiste
Sempre manipuladora
Águia na agulha, adora
Quando o soneto perfeito aflora
Só para provar que a perfeição não existe
Ateu Poeta
28/07/2016
29
MORFEMA SINE QUA
O poeta morreu a cantar
Sepultura em prosa e verso
Seu verbo era rimar
Sendo da serra, sonhava com o mar
Jamais aprendera a nadar
Se este poema não acabar
Ficará o dilema tal morfema sine qua
O trema, o lema, o tema, o leme teme a treva
O trevo que não se atreva na trova velejar
A trave trava a triste língua do trovão
A lava lava o meu coração levado
Não conheci Capistrano ou Caio Prado
Nem toquei “Piano bar”
Luva leve, leve o louvor comprado
Para bem longe deste livre ser!
Que ao livro da noite, em açoite
Será sino sem sina que ensina a fenecer
Ateu Poeta
28/07/2016
30
OUTRA CANÇÃO
Nunca pensei que fosse resistir
Olha, eu sei, foi melhor assim
Eu avisei, chega de indecisão
Preservarei o meu coração
Se eu errei não foi sem razão
Até criei a nossa canção
Acreditei na mesma ilusão
Vou embora agora sem refrão
Hoje cansei, mas irei até o fim
Essa é a lei do Éden-jardim
E eu nem acredito em Adão
Nem nesse Deus-imaginação
A estrada irá me conduzir
Nova jornada há de surgir
Ateu Poeta
08/10/2016
31
LINDA FEITO AMAR
Linda de se ver
Feito amar
Só me faz sofrer
E ao Sol corar
Pescoços se contorcem
Pela rua
Sem parar
Sua beleza nua
Perfuma o ar
Desiderata fascinação
Perfeição que mata
No seio da paixão
Sedução inata
Sob sua luz
O céu vai desaguar
A mata enverdecer
E a Lua sangrar
Os esses do seu corpo
Fenecem meu juízo
Já enlouqueci
Em cada contorno
Desse seu sorriso
O universo todo
Agora é só um verso
Ao seu bel prazer
Corações a acelerar
Vulcões a renascer
Na tempestade solar do seu ser
Devolva o meu coração
Em canção ou poesia
Com ou sem refrão
Serenata ou sinfonia
O tempo já passou
O mundo não para mais
Nem sei mais quem sou
Mero marujo sem cais
Ateu Poeta
27/10/2016
32
BEM CONVIVER
Chega de sonhar acordado
Eu não preciso sonhar
O que preciso é viver
Com ou sem você
Todo vício deve ser superado
Se quiser me acompanhar
É só aparecer
Não prometo Sol nem chuva
Nem uma grande fortuna
A riqueza do mundo
Se chama prazer
Talvez a felicidade
Seja estabilidade
E o bem conviver
Ateu Poeta
30/10/2016
33
FERA DOMÉSTICA
A diferença com os demais animais
É que o homem é nada mais que uma fera doméstica
De ego estratosférico e sonhos surreias
Exagerado para o bem e também para o caos
Louco por natureza, com toda certeza
Tem a febre da razão
A paixão é sua desgraça e fortaleza
Deseja ser imensidão
Ancião mesmo antes de nascer
Apenas o medo que é de um bebê
Curiosidade sem igual
Não tem limites para amar e pra sofrer
Quer ser imortal
Mas às vezes deseja matar e morrer
Quando a asa quebra
No amanhecer
Ateu Poeta
19/09/2016
34
ORQUESTRA MATINAL
Na serra
Os passarinhos
São os orquestrantes
Das manhãs
Sonatas Naturais
Em Pacoti
Tenores silvestres
Que vestem o Céu de azul
Blues
Onde a poesia canta
E acalanta on blue
A tristeza fenece
Vociferam vidas
Guerras
Paz
Conversas
Que ao Sol tecem
Apetece ao meu coração
Voar
Em vão
Até cansar
Na esquina
De uma outra
Dimensão
Aliteração
Sem sombra
Saber sonhar
Ser sinfonia
Sabres
Sobre sótãos
Soltam soturnos sinais
Sóbrias sinestesias siderais
Ateu Poeta
24/11/2016
35
A gente morre
Quando para de sonhar
Cortem as amarras
Da opressão
Ainda é vermelho
O meu coração
Não desejo euforia
Nem anestesia mental
O que quero é alforria
Não aporia
Nem aporética
Mas, dialética
Menos mais-valia
Mais empoderamento cultural
Menos monarquia
Mais Padaria Espiritual
Ateu Poeta
11/10/2016
36
É PRECISO PENSAR ALÉM
Não acredito sem ver
Porque não amanheci criança
Nessa dança da ilusão eu aprendi a vencer
Nocauteando o terror de Bragança
Pus na balança para não fenecer
As chaves do Purgatório
Do Inferno e do Céu
Tão inviáveis quanto seria
Manter um escritório inteiro em um carrossel
Mente vazia é oficina da Igreja
Veja por si mesmo
E aprenda a crescer
É preciso querer mais que o pão
Circo também não sustenta
Fé não alimenta
Só fede o que lhe obriga a fazer
A verdade é tão simples
Deus não existe
E também não há perfeição
Não importa quem insiste
É sempre fraude
O Freud da revelação
Milhões se infiltram na ciência
Mas, continuam fiéis
E a fazem com grande incompetência
Feito penitências de quartéis
Conhecimento parado vira burrice
É crendice querer abafar
Chega de tanta tolice!
Não importa quem disse
Não é questão de bafafá
Para buscar a verdade é preciso coragem
A maioria ainda não aprendeu a pensar
Nem a dar os primeiros passos aprendeu
Para ir em frente
Fortaleça a sua mente aprendendo a enfrentar
Ateu Poeta
28/06/2016
37
FOME
A minha fome é de abismo
E não há aforismo melhor para cantar
Altruísmo, egoísmo e niilismo
É tudo cinismo
O mecanismo da sede é sedar
Acatar não acalanta
Muito menos encanta calar
Hoje já não tenho nome
Sou só um homem sem prata no ar
Ceder a seda cega
Não há sede melhor para segar
Celebrar o que azeda é criar azeite
Para o deleite do mar
Lua de leite em Qunran e Qatar
Catarse quase sangrando
Outro bando
Ouro brando a abandonar
Catar o que não se come
A semântica não faz a semente germinar
Minar o sonho é nunca ter lar
Ateu Poeta
07/07/2016
38
A CIDADE ONDE EU NASCI
(paródia)
"Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente" na cidade onde eu nasci
"E poder me orgulhar"
Mas, para isso o tráfico tem que acabar
Pacoti já não é calmo como era antigamente
Furto, roubo e assalto por aqui anda frequente
Hoje é comum muita grade na janela
E ver delinquente solto não é coisa nada bela
O patrimônio público está ruindo
Troca-troca de prefeito, o eleito foi fugindo
Nosso rio poluído continua sumindo
Sob esgoto malfeito que o vai consumindo
Sem falar em assassinatos na região
Daqui a pouco já será um batalhão
Banco e agências já sofreram invasão
Da última vez houve grande explosão
Por aqui já tem maconha, crack e cocaína
Que se usa em cada esquina
Precisamos de maior policiamento
Não basta apenas deslocar destacamento
É preciso outra vez ter delegado
Porque o nosso povo não é gado
Facilitaria cada crime ser apurado
Não se pode deixar tudo parado
A corrupção também é grande demais
O que precisamos é de tempos de paz
Ação efetiva não se faz
Desse jeito até o turismo daqui a pouco aqui jaz
Ateu Poeta
07/07/2016
39
DIAGRAMA VERITATIS
A tragédia grega
Agrega o global
Cabal
É regra
Comédia dantesca
Tanque que nega
Crítica negra
Golpe branco
Verde franco
Amarelo ardor
Vermelha face
Azul disfarce do terror
Até o condor
Agora é abutre
A mídia nutre
A guinada à direita
Fortalece a seita
Aceita e obedece
Cada esse fenece
E aquece a suspeita
Nada endireita
Esse cifrão que enriquece
Frio lobo
À espreita
Ditadura estreita
Nem tudo se atura
Fábrica de sepultura
Escudo de tortura
Mundo mudo
Minuto de silêncio
Dura uma hora
Dura
A seta se tece
Na teia da aranha
A manha arranha
A manhã de um amanhã carece
A noite sega o sol
Açoite
Cego anzol
Caminhão
Caminho
Sozinho
Sem ninho
Um milhão
O refrão
Já não cabe na garganta
Quem canta
Não sabe o que aconteceu
O Céu nunca esteve lá
Gabriel
Soldado secular
De Israel
Sangrento Talibã
Palestina
Religião é cocaína
Minha irmã
Atira na retina
Atina
Quartel em serpentina
Sina
Ensina a não sonhar
Aquibá
Explosões por Alá
Oxalá!
Corrente do caos
Latente
Trincar o dente
Tente
Derrubar o tenente
Ou presidente
É deprimente
Ver a democracia decadente
Ateu Poeta
18/07/2016
40
EIS O DILEMA
O que merece um juiz
Que faz da Lei meretriz
Pondo em risco um país
Mandando para os confins
Tudo o que era certo?
Quando o sistema é o problema
Quem trará o trema da solução?
Eis o dilema
Cada um quer ser esperto
Beber o último gole no deserto
Deixando o rombo aberto
Esperem pelo estrondo
O trovão ainda não veio
Quem tiver receio
Que saia do meio
Pois tudo está sem freio
Ou preso no arreio
Cabresto no Brasil
Pátria amada
Mente amarrada
Guarda armada
Peito febril
Analfabetismo político nessa jornada
Adornada de ignorâncias mil
Corrupção institucionalizada
Chega a ser hediondo
É espantoso ver como são cegos
Apenas os seus egos contra o mundo se impondo
Ateu Poeta
04/07/2016
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