21-GAVIÃO ARQUEIRO
Em certos dias-aporias
Eu não consigo cantar
Falta-me o grito
Sou fogo sem ar
Apenas a dor
Insiste em bater
Tão shakespeariana
Do "ser ou não ser"
Nesse peito tambor
Com tamanho furor
Feitor a fruir do fenecer
Vulcano faísca o clarão
Já não há mais flor
Em nevasca e vulcão
Nem em menor poção
Aos estridentes dentes do cão
Em completo ardor
Sob a pluma do vão
Sem cobertor
Morreu mais um ator
Não era filho de Adão
Porque não tinha andor
Sob as asas do condor
O frio era o seu vagão
O céu é o chão
A chama do Ceifador
Eleva leve vetor
Num falso filme de ação
A cortina tece terror
As moiras moram no sótão são
Catilinas catam calor
Dalila engana Sansão
E com os olhos de horror
Vê o templo ruir
De outro tempo ruim
Para a verdade fluir
É preciso furar
Os olhos da vaidade
Prepotência preponderante
Inveja é vulnerabilidade
Questão de habilidade
Não é bem esperteza
Criar fortaleza
É sangrar à própria fraqueza
Quem teme cair não levanta
A caveira na garganta
Carece de mel
Enquanto o fel acalanta
Hipnos encanta
Vencê-lo em seu jogo é provação
Nietzsche dança zombeteiro e sem mantra
Um arqueiro certeiro não tem coração
Ao bom juiz é preciso
Saber sentir o sabor do juízo
Ter do bebê a pureza
E do leão a destreza
De criar o pulo do gato
No ato cruel
Ser bode em vez de cordeiro
Espreitar no mato
Feito arteiro menestrel
Seguir o vento ligeiro
No intento fiel
De ser mensageiro pioneiro
O peão é passageiro
E o rei também
Até o bandido mais matreiro
Um dia vira refém
Ateu Poeta
11/06/2016
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