68-TÂNTALOS DA SOMÁLIA
No fim do dia
No fim do dia
Só sobrou a atopia
Sonho, descanse em paz!
Sonho, descanse em paz!
Água, meu senhor!
Água, por favor!
Pior que a fome só a sede
Agonia que me seca
A seca nunca para
Mortalha de Sol estendida
Não cometi crime algum
Mas cumpro pena de vida
A política estabelecida
É um formal jogo mundial
Com toque de recolher
Onde a miséria é brutal
Onde está a minha escola?
Não existe bola nem escolha
Minha gente ainda insiste
Em lembrar que existe
Em tentar sobreviver
A violência é iminente
O terror ascendente
No calor da esmola
De ser dependente
Mora
Um imenso ultraje a rigor
Que é descendente
Desse sistema emergente
Que implantou a lei do trema
Tema
E nada tenha!
A África subsaariana
Sente a suçuarana do pavor
Está tatuada no drama
Suplantada
Esfolada
Enforcada
Entalhada
Enterrada
Na trágica trama da dor
Do Estado Islâmico
À Máfia Italiana
A História só se repete
E ninguém se mete
Para evitar
Porque será que a maldade
Manda mais que a caridade?
O poder impera sobre a humanidade
Triste escrava da mais-valia
“Temos que estancar esta sangria”
Nas palavras de Romero Jucá
De Rômulo a Rômulo
Roma veio para cá
Quando o novo não vem todo dia
O mínimo é vital
Bebida com cloriforme fecal
Que brota do chão cavado
Sem ser ingerida
Por nenhum outro animal
Porque há sujeira embebida
Em escala industrial
De um grande sertão natural
A disputa territorial
O descaso intelectual
E o esquecimento geral
Fazem tudo piorar
Quando vem ajuda ao cativo
É só um paliativo
Sem ativo
Economia de quintal
Não há crivo tão incrível
Para tudo mudar
Tão curto é o alívio
A morte é até uma cura
Nessa jornada sem norte
E tão dura
É loucura
Uma febril tortura
Vira assunto
Por um mísero instante
Na vitrine virtual
Mero acaso de canal
Que grita
Em delirante ritual
Para o vil palco carnal
Numa euforia degradante
O mundo é um covil
De carnificina
Dentro das megalópoles
Que chamamos “civilização”
Há um louco em cada esquina
Psicopatas
Com colarinho federal
Em ação
Fazendo o tempo andar pre trás
Sugando tudo para um lado
Clã não declarado
Parasitas fenomenais
O templo é o caminho
Cuidado com o moinho da heresia
Você precisa rimar
Para somar com maestria
E não ser visto pela Matriz
Não há nenhum New, aprendiz
Você não pode vencer!
Cadê a colher e o giz?
Os abutres somos nós
Os que somem
Omitem
E criticam quem ousa lutar
A grade está servida
Se a caverna está dividida
Vamos outra dívida criar
E soltar bombas no ar
Para que tanto movimento?
Para que tanta poesia?
Que adianta clamar com utopia
Se não dá mesmo para escapar?
São tantas crianças carentes
Tântalos muito mais que inocentes
Errantes a seguir sem errar
Uganda, Quênia, Etiópia, Djibuti, Somália...
Sementes sombrias e escusas
Fabricam correntes e correntezas
Forjam mazelas em troca de luxúria
Projetam favelas em Fortaleza
O Rio é um fuzil
Que dá calafrio em afegão
São Paulo é outro pavio
Na Síria morre meio milhão
Estados separatistas no sul do Brasil
Os artistas do tráficos estão de parabéns
Rins do subúrbio são vendidos
Nas linhas mais turvas dos trens
A boca manda calar
E dizer amém
A noite aqui faz sangrar
Açoite para a Corte cortar
Com a vírgula de um lampião
Batmans batem no jargão
As metralhas sabem ladrar
O estampido é a libido de uma nova explosão
Ateu Poeta
09/10/2016
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